sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Manilla Road - Abram as portas!

Capa do álbum pintada por Eric Larnoy 
Por: Anderson Frota

Na minha cabeça, eu enxergo os primeiros anos da música pesada americana em três fases: a primeira, com as bandas/artistas pioneiros, como Cactus, KISS, BLUE OYSTER CULT e TED NUGENT, por exemplo; a terceira, com o advento das bandas de Thrash Metal. Entre essas duas, uma leva de bandas que já se assumiam como Heavy Metal, tais quais THE RODS, LIEGE LORD, RIOT, ARMORED SAINT, MANOWAR, CIRITH UNGOL, OMEN, VIRGIN STEELE... Na grande maioria, curiosamente, a tendência em abarcar temas épicos. Entre todas, tão importante quanto as demais, há o MANILLA ROAD.


Open the Gates foi lançado pela Black Dragon Records
Sempre achei interessante o fascínio que os americanos tem por essa temática da bárbaros e espadas, sendo que isso está mais ligado ao passado do continente europeu. A literatura estadunidense, porém, foi pródiga nessa linha editorial, tendo Robert E. Howard, criador de Conan, um de seus expoentes. Na música, bandas como as mencionadas acima traduziam em canções não apenas o universo cimério, como também temas da távola redonda, ou da obra de Tolkien.

A música do MANILLA ROAD é um Heavy Metal classudo e bombástico. Naturalmente forte e naturalmente pesado. É fascinante a forma como as canções executadas pela banda conseguem repassar o clima medieval sem precisar recorrer aos artifícios excessivamente utilizados por grande parte dos artistas atuais. Ninguém vai encontrar, aqui, um coro com cinquenta alemães berrando para transmitir a sensação de batalha. Os arranjos, as melodias e os timbres já fazem, a contento, esse serviço.


Ao começar o disco, com a faixa "Metalstorm", já dá pra perceber que é uma
Foto divulgação
banda coesa que está ali, e o título da mesma já é uma carta de intenções bem clara. Mark Shelton, o líder do grupo, tem uma voz perfeita para o estilo, ríspida e aguda, misturando drama com agressividade, além de ser um guitarrista de mão cheia. A levada das estrofes de "Hour of the Dragon" tem aquele tipo de tensão que lhe segura na expectativa da chegada do refrão explosivo. No geral, as músicas do 
MANILLA ROAD passam uma inusitada sensação de êxtase. Não dá pra ouvir "Astronomica" sem se sentir uno com o sentimento da música, ou, principalmente, ouvir "The Ninth Wave" sem ter vontade de erguer um brinde com os amigos que estiverem próximos, sem nenhum motivo especial afora o fato de estar ouvindo uma grande canção! 

Em "Open the Gates", faixa-título, há uma certa semelhança com o CIRITH UNGOL, excetuando talvez o vocal, e "Heavy Metal to the World", não obstante o título, me soou como algo que o MANOWAR poderia ter feito. Essas similaridades não significam, em absoluto, falta de criatividade. Significam, sim, que essas bandas tinham completo domínio das características inerentes à musicalidade do ambiente que tencionavam retratar. 


Scott Park, Randy "Thrasher" Foxe e Mark W. Shelton
Mark Shelton prossegue liderando o conjunto, agora como um quarteto, deixando os vocais principais para Bryan Patrick desde 2005. Na época desse disco eles eram um trio e esse formato é sempre o mais desafiador. Desafios, porém, não devem ser problemas para Shelton. Ele prossegue, tantos anos depois, sem vontade de parar, batalhando no underground, com a mesma persevarança de tantas bandas íntegras, tais quais são também o Anvil, EXCITERr, ANGEL WITCH, TANK, ARTILLERY, DEMON, PICTURE e milhares de outras que, maiores ou menores, não veem problemas em estar nos palcos dos pequenos clubes. Os holofotes são menores, mas a paixão emanada pelo público é imensa. Quando eu chego ao final da audição de um trabalho assim, não deixo de me sentir um pouco privilegiado por ter tido a oportunidade de ter acesso a uma música tão boa, mas isso só ocorre se a pessoa procurar bandas “fora da caixa”, fora das capas de revistas, enfim, fora da zona de conforto. A fonte é infinita e os portões estão abertos. Basta apenas a vontade de atravessá-los.


Nenhum comentário:

Postar um comentário